quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Fim de Tarde

Olhei para ti naquele final de tarde, enquanto o Sol descia ávido por descanso.

Tu estavas inerte no solo, o teu peito ondeava calmamente. Eu sentia o sangue a pulsar-me no corpo.

Toda esta paz, todo este silêncio apenas pecado pelo som do vento por entre as árvores e pelo chilrear feliz dos pássaros que esvoaçam perdidamente.

A tua face, rosácea carne, escondia, por debaixo de uma ou outra madeixa de cabelo breu, uma leve impressão de sorriso. Mantinhas os olhos fechados pacificamente e os braços ao longo do tronco. As tuas pernas, meio dobradas, davam-te o ar de criança mimada pelo sono e embalada pela segurança paternal.

Tudo era belo, luminoso, calmo

Olhei para a tua letargia respirando violentamente, com os punhos cerrados e apertados fazendo pálidos os nós dos dedos. Na boca os dentes rangiam-me e nos olhos o vermelho ia ganhando ao branco.

Olhei para ti e pensei “Apetece-me dar-te pontapés na cabeça até ver o teu sangue tingir o chão de escarlate.”