segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

À Luz da Dança

Às vezes, quando estou sozinho no meu escuro pensamento e dele me querendo livrar, penso em ti.
Recordo-me do teu sorriso triste ao bailares aquela valsa com o teu marido, recordo-me do teu bocejar enfadado com as conversas das tuas amigas já gordas de costume e magras de interesse.
Lembro-me do teu sorriso envergonhado ao veres que nesse baile alguém se encontrava também farto, mas que para manter as aparências se mantinha hirto e desinteressado.
Foi um acaso que acometeu os nossos olhares. Na altura pensei veemente em ir falar contigo.Tirar-te das amarras dos vestidos de baile e levar-te a ouvir violinos bêbedos em ruas de má fama. Queria ir contigo descobrir o fundo de garrafas de brandy e a beleza de ruelas enlameadas.
Recordo-me que ao relampejo de uma gargantilha dourada pestanejei e que quando voltei à procura dos teus olhos já os teus lábios encontravam inexpressivamente os do teu marido.
Como já nada me prendia àquele sítio resolvi sair daquele funesto baile de cataduras. Perguntei pela tua mala a um subornado camareiro e deixei lá a minha desventurada morada.

Durante três demorados dias pensei apenas em ti, mas nada ouvia. Imaginava o teu corpo, os teus cabelos ruivos libertos, a tua pele morena que se escondia por debaixo de pesados poses de arroz e afins.
Ao quarto dia contaram-me. O teu cavalo tinha-se espantado quando galopava ao som do teu choro. Aquele que contigo se deitava e dançava tinha-te ciumentamente batido.
Quem mo contou foi E …, que quase levava um coice da tua queda. Quanto te tentou socorrer viu um papel na mão. Era o meu endereço.
Matei-te.