Às vezes, quando estou sozinho no meu escuro pensamento e dele me querendo livrar, penso em ti.
Recordo-me
do teu sorriso triste ao bailares aquela valsa com o teu marido,
recordo-me do teu bocejar enfadado com as conversas das tuas amigas já
gordas de costume e magras de interesse.
Lembro-me
do teu sorriso envergonhado ao veres que nesse baile alguém se
encontrava também farto, mas que para manter as aparências se mantinha
hirto e desinteressado.
Foi
um acaso que acometeu os nossos olhares. Na altura pensei veemente em
ir falar contigo.Tirar-te das amarras dos vestidos de baile e levar-te a
ouvir violinos bêbedos em ruas de má fama. Queria ir contigo descobrir o
fundo de garrafas de brandy e a beleza de ruelas enlameadas.
Recordo-me
que ao relampejo de uma gargantilha dourada pestanejei e que quando
voltei à procura dos teus olhos já os teus lábios encontravam
inexpressivamente os do teu marido.
Como
já nada me prendia àquele sítio resolvi sair daquele funesto baile de
cataduras. Perguntei pela tua mala a um subornado camareiro e deixei lá a
minha desventurada morada.
Durante
três demorados dias pensei apenas em ti, mas nada ouvia. Imaginava o
teu corpo, os teus cabelos ruivos libertos, a tua pele morena que se
escondia por debaixo de pesados poses de arroz e afins.
Ao
quarto dia contaram-me. O teu cavalo tinha-se espantado quando galopava
ao som do teu choro. Aquele que contigo se deitava e dançava tinha-te
ciumentamente batido.
Quem
mo contou foi E …, que quase levava um coice da tua queda. Quanto te
tentou socorrer viu um papel na mão. Era o meu endereço.
Matei-te.
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