De mão dada
caminham silenciosamente por entre o jardim do palácio que foram visitar. Por
entre olhares ternos, trocam alguns sorrisos cúmplices. Ambos não param de
pensar um no outro.
O nome dele é
C e o dela F
C – (Sou o homem mais sortudo do
mundo. Nunca imaginei encontrar alguém como tu)
F – (Que seca, este gajo só me
traz para jardins e merdas destas)
C – (Adoro o teu sorriso, o calor
da palma da tua mão)
F – (Ainda por cima faz-me
levantar cedo num domingo)
C – (Deixa-me só ver mais uma vez
o teu olhar)
F – (Já está outra vez a olhar
para mim)
C – (És linda)
F – (Encandeei-me, caraças)
C – (Eu sabia que ela ia adorar
este sítio)
F – (Estou a ficar com fome)
C – (Se calhar é melhor irmos ver
de um sítio para comer)
F – (Estava-me mesmo a apetecer
fast food)
C – (Acho que a vou levar àquela
churrasqueira)
F – (Isto é só pedras velhas. Vá,
vamos embora daqui)
Ambos
resolvem quebrar o silêncio
C / F – Vamos almoçar?
F – (Yeah!!)
C – (Oh, foi tão querido,
estarmos os dois a pensar no mesmo) Claro. Tens algo em mente?
F – Não ‘mor, decide tu. Afinal,
foste tu quem planeeou o fim de semana (centro comercial, centro comercial,
CENTRO COMERCIAL, ANORMAL!!!)
C – Ok. Então vamos a um
restaurante que me falaram antes de virmos para aqui. Chama-se “Tá tudo em
brasa”.
F – Boa (merda).
Enquanto iam para o carro o
telemóvel de F tocou.
C – (Deve ser a tia-avó a dar-lhe
os parabéns pelo noivado)
F – (Porra J, agora é que me
ligas?)
F - É a minha tia-avó. Deve
querer dar-me os parabéns pelo noivado
C – (Eu sabia. Conheço-a tão bem)
F – Olá tia, como está?
J – Tia? Sou o J.., caraças!
F – Sim, eu sei. Sim sim, ele
está mesmo aqui ao meu lado
J – Merda. Estás com ele? E quando é que nos voltamos a ver?
F – Se ele já me deu a novidade? Claro
que sim!
J – Vais ser mãe? Olha que o filho não pode ser meu!
F – Não seja parva tia! Não estou
a falar disso. E sim, o anel fica-me bom. E é lindo
J – Já te pediu em casamento, o tanso? Então e quando é que me vens cá
mostrar o anel?
F – Oh tia, não sei. 3ª-feira, se
calhar. Aproveito que o C está a trabalhar no turno da noite e vou aí jantar.
J – OK, perfeito. Mas não me trates por tia! Que parvoíce pá!
F – Beijinho tia (caraças, acho
que me safei)
J – Beijo. Tenho saudades tuas. Até 3ª-feira
C – (A tia dela é cá uma
personagem)
C – Então, que queria ela?
F – Nada, só queria saber se
estava feliz, e quer ver o anel. Acho que vou passar por lá na próxima
3ª-feira,
C – Não queres que eu vá?
F – Não C…, não te quero dar essa
maçada. Depois ela não se cala e tu tens de trabalhar. Tu já sabes como ela é.
F – (Achas que a minha tia sabe
que eu me vou casar contigo? Se lhe disser ela deserda-me. Ela odeia-te,
burro!)
C – Sim, compreendo..
No carro tudo
se mantém igual. Os vidros estão um pouco abertos, para não fazer muito vento, o
rádio toca uma música conhecida e muito badalada. Por entre meios de acordes
ouvem-se os pássaros primaveris.
Ele olha-a e
sorri. Ela sente o sorriso na cara morna pelo sol e devolve-lho.
Ele procura a
mão dela, mas apenas encontra a coxa macia. Ela trata de fazer a sua mão
encontrar a dele.
Assim vão,
sorridentes e doces para o restaurante das suas férias.
C – Acho que chegamos. É ali
aquele restaurante enorme.
F – Eh lá! (uma manjedoura de
grunhos. Lindo) É enorme! Será que a comida é boa?
C – Um empregado do meu pai diz
que tem os melhores secretos que já alguma vez comeu.
F – Um empregado? (um parvónio,
queres tu dizer)
C – Sim, o Eduardo, tu sabes, o
das máquinas.
F – Ah sim, já sei. (claro, é só
o gajo das máquinas. Porque será, oh génio?) Então bora, que estou cheia de
fome
C – Espera, como nós estamos de
férias, assim meio românticas, eu pedi para que fizessem algo especial. Espero
que gostes.
F – (Burro, até as surpresas
sabes estragar) A sério? Diz-me o que é, vá lá!
C – Não posso. (mas aquela
garoupa que comprei no supermercado é qualquer coisa)
F – (Caviar? Rosbife? Vinho
francês caro? Uma porcaria de uma mesa para dois? Pá!, eu só quero um grande
bife do acém!!!) Oh, és um desmancha prazeres. Vá, despacha-te, oh trolaró.
C – (Ela gosta tanto de mim)
Sentaram-se.
O restaurante estava a funcionar a meio gás, e por entre bater de copos e
chincalhar de talheres, ouvia-se o mastigar de boca aberta dos clientes.
Todo o cenário
era digno de uma cena dos Miseráveis. Restos de comida pelo chão, mesas por
levantar, loiça suja em cima do balcão e carne crua às moscas
C – Não te deixes levar pelo
barulho F., a comida é muito boa
F – Não sei, isto está muito
sujo. (Ao menos não me trouxe a um sítio maricas, safa!)
C – Vá lá, tem fé em mim, ‘mor.
F – (Fé? Fé? Fé em quê? Só se for
na conta bancária do teu pai, porque tu nem uma porcaria de um trabalho normal
arranjaste! És enfermeiro e trabalhas por turnos) Claro que tenho. Que vamos
almoçar?
C – Para
começar, um vinho do porto.
F – Sim, pode ser, mas não demores
muito nas entradas, sim?, que eu estou a morrer de fome (carne, carne, carne!!)
C – Claro que sim. (pobrezinha, o
passeio deve tê-la deixado faminta)
F – Obrigado, és um querido.
(Fome que dói, oh anormal)
C – Amo-te.
F – Eu também (amo a tua herança
e a carninha grelhada no prato)
C – Vou perguntar se demora
muito, ok?
F – Claro.
A
fome de F mantém-se, assim como o entusiasmo de C. Do outro lado do telefone J
espera por uma chamada. A tia de F. não sonha com casamento algum e o pai de C
não quer entregar o dinheiro a uma rameira qualquer.
C – Ei-la, a garoupa gigante!
F – (NÃÃÃOOOO) Garoupa? Que bom!
Pensava que ia ser um bife especial qualquer! (ou sem ser especial, génio)
C – Eu sabia que ias adorar. Tu
adoras peixe, não é ‘mor?
F – Sim. (sorriso amarelo,
amador!)
C – Já te disse que gosto muito
de ti, hoje?
F – Já, mas é muito bom ouvir.
(já estou a ficar farta)
C – A garoupa é boa?
F – É óptima. Mas como é que
conseguiste que te fizessem peixe num sitio de carne grelhada?
C – Liguei e pedi. Disse que nos
íamos casar e eles acederam no mesmo momento.
F – As pessoas são uns corações
de manteiga. (eu só queria uma porcaria de carne! E hei-de a ter ainda hoje!)
C – Sim, mas a nossa história é
fantástica. O sítio onde nos conhecemos (aquela praia quase deserta, só nós e
os nossos cães que nos forçaram a conhecer), a garoupa que te paguei no restaurante
da praia, e a tua camisola suja pelo azeite, que entornaste por estares a rir.
F – Como podia esquecer? (por
acaso, tu até és giro, e tinhas um cão lindo. Mas eu entornei o azeite porque
me engasguei na porcaria de uma espinha da garoupa! E que cena é tua com
garoupas, ein? Eu queria um pernil pá!) Foi um dos dias mais inesquecíveis da
minha vida!
C – Sou muito feliz a teu lado
F – E eu ao teu. (mas sem tantas
mariquices e com carne)
C – E hoje, para lembrar esse
dia, pedi o mesmo peixe de há … anos
F.
deixa cair o garfo. Apanha-o e …
C - AAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHH
F – Eu só queria uma boa dose de
carne, burro!!!!!!!!!!!!!!!!!!
O
garfo estava espetado na perna de C.
O
telefone tocou…
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