segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Sorrindo à Chuva

Hoje uma frase inspirou-me. Inspirou-me porque me incluo nela e por isso há pessoas que gostam de mim, quanto mais não seja apenas por isto.
Li "Gosto de pessoas que sorriem quando chove".
Eu não sei que género de pessoa sou eu e as minhas semelhantes que sorriem quando sentem água celestial a respingar na cabeça, mas sei definitivamente que não somos aqueles seres encolhidos e negros que se encolhem por debaixo de um guarda-chuva, ou de um casaco disforme em cima de um tronco descabeçado momentaneamente.
Não sei se somos mais ou menos felizes do que esses que fogem de água mole, mas certamente seremos mais senhores dos sentidos e também do Ego. Só egoístas (e tolos) não imitam a maioria e, neste caso, não fogem da água inofensiva e Viva, tal como só os egoístas (e tolos) esperam por Godot ou não se lamentam da chuva que cai, ou do calor que faz, nem sequer do curto salário que recebem.
Se sorrimos com a chuva, haverá razão para lamentarmos a falta de sorte? Não, porque nós, os egoístas e tolos que sorrimos à chuva, estamos mais preocupados em ser felizes e proporcionar felicidade do que cacicar em cantos e recantos de cidade escura.
Nós, os que sorrimos com a chuva e com o vento que entre de rompante pelo vidro detrás do carro e que nos faz fechar os olhos, preocupamo-nos constantemente com o nosso sorriso e com o sorriso do outro.
É por isso que somos gozados, admirados, invejados e ostracizados.
É por isto que sorrimos à chuva, porque sabemos porque estamos a Sorrir na chuva.

sábado, 17 de dezembro de 2011

Ceifar no Vazio

Percorro as ruas nocturnas da minha terra natal.
Gosto sempre de voltar quando ela está vazia, o que não acontece no Natal e em Agosto.
Gosto sempre de voltar quando o ritmo dos meus passos viola abruptamente o silvo mudo da desertificação.
Mas nesta noite fria e deserta não estou sozinho nas ruas empedradas da minha terra. Nas três ruas da minha terra.
Ela perscruta-me por todo e de todo o lado.
Sei-A a espiar-me.
Ao enésimo dobrar de esquina na rua 2 encontro o brilho morto dos seus olhos e a ponta afiada da sua foice.
Vai-me ceifar...