terça-feira, 14 de maio de 2013

Exercício do casal feliz



De mão dada caminham silenciosamente por entre o jardim do palácio que foram visitar. Por entre olhares ternos, trocam alguns sorrisos cúmplices. Ambos não param de pensar um no outro.
O nome dele é C e o dela F

C – (Sou o homem mais sortudo do mundo. Nunca imaginei encontrar alguém como tu)
F – (Que seca, este gajo só me traz para jardins e merdas destas)
C – (Adoro o teu sorriso, o calor da palma da tua mão)
F – (Ainda por cima faz-me levantar cedo num domingo)
C – (Deixa-me só ver mais uma vez o teu olhar)
F – (Já está outra vez a olhar para mim)
C – (És linda)
F – (Encandeei-me, caraças)
C – (Eu sabia que ela ia adorar este sítio)
F – (Estou a ficar com fome)
C – (Se calhar é melhor irmos ver de um sítio para comer)
F – (Estava-me mesmo a apetecer fast food)
C – (Acho que a vou levar àquela churrasqueira)
F – (Isto é só pedras velhas. Vá, vamos embora daqui)

            Ambos resolvem quebrar o silêncio

C / F – Vamos almoçar?

F – (Yeah!!)
C – (Oh, foi tão querido, estarmos os dois a pensar no mesmo) Claro. Tens algo em mente?
F – Não ‘mor, decide tu. Afinal, foste tu quem planeeou o fim de semana (centro comercial, centro comercial, CENTRO COMERCIAL, ANORMAL!!!)
C – Ok. Então vamos a um restaurante que me falaram antes de virmos para aqui. Chama-se “Tá tudo em brasa”.
F – Boa (merda).

Enquanto iam para o carro o telemóvel de F tocou.

C – (Deve ser a tia-avó a dar-lhe os parabéns pelo noivado)
F – (Porra J, agora é que me ligas?)
F - É a minha tia-avó. Deve querer dar-me os parabéns pelo noivado
C – (Eu sabia. Conheço-a tão bem)
F – Olá tia, como está?
J – Tia? Sou o J.., caraças!
F – Sim, eu sei. Sim sim, ele está mesmo aqui ao meu lado
J – Merda. Estás com ele? E quando é que nos voltamos a ver?
F – Se ele já me deu a novidade? Claro que sim!
J – Vais ser mãe? Olha que o filho não pode ser meu!
F – Não seja parva tia! Não estou a falar disso. E sim, o anel fica-me bom. E é lindo
J – Já te pediu em casamento, o tanso? Então e quando é que me vens cá mostrar o anel?
F – Oh tia, não sei. 3ª-feira, se calhar. Aproveito que o C está a trabalhar no turno da noite e vou aí jantar.
J – OK, perfeito. Mas não me trates por tia! Que parvoíce pá!
F – Beijinho tia (caraças, acho que me safei)
J – Beijo. Tenho saudades tuas. Até 3ª-feira
C – (A tia dela é cá uma personagem)
C – Então, que queria ela?
F – Nada, só queria saber se estava feliz, e quer ver o anel. Acho que vou passar por lá na próxima 3ª-feira,
C – Não queres que eu vá?
F – Não C…, não te quero dar essa maçada. Depois ela não se cala e tu tens de trabalhar. Tu já sabes como ela é.
F – (Achas que a minha tia sabe que eu me vou casar contigo? Se lhe disser ela deserda-me. Ela odeia-te, burro!)
C – Sim, compreendo..


No carro tudo se mantém igual. Os vidros estão um pouco abertos, para não fazer muito vento, o rádio toca uma música conhecida e muito badalada. Por entre meios de acordes ouvem-se os pássaros primaveris.
Ele olha-a e sorri. Ela sente o sorriso na cara morna pelo sol e devolve-lho.
Ele procura a mão dela, mas apenas encontra a coxa macia. Ela trata de fazer a sua mão encontrar a dele.
Assim vão, sorridentes e doces para o restaurante das suas férias.


C – Acho que chegamos. É ali aquele restaurante enorme.
F – Eh lá! (uma manjedoura de grunhos. Lindo) É enorme! Será que a comida é boa?
C – Um empregado do meu pai diz que tem os melhores secretos que já alguma vez comeu.
F – Um empregado? (um parvónio, queres tu dizer)
C – Sim, o Eduardo, tu sabes, o das máquinas.
F – Ah sim, já sei. (claro, é só o gajo das máquinas. Porque será, oh génio?) Então bora, que estou cheia de fome
C – Espera, como nós estamos de férias, assim meio românticas, eu pedi para que fizessem algo especial. Espero que gostes.
F – (Burro, até as surpresas sabes estragar) A sério? Diz-me o que é, vá lá!
C – Não posso. (mas aquela garoupa que comprei no supermercado é qualquer coisa)
F – (Caviar? Rosbife? Vinho francês caro? Uma porcaria de uma mesa para dois? Pá!, eu só quero um grande bife do acém!!!) Oh, és um desmancha prazeres. Vá, despacha-te, oh trolaró.
C – (Ela gosta tanto de mim)

            Sentaram-se. O restaurante estava a funcionar a meio gás, e por entre bater de copos e chincalhar de talheres, ouvia-se o mastigar de boca aberta dos clientes.
Todo o cenário era digno de uma cena dos Miseráveis. Restos de comida pelo chão, mesas por levantar, loiça suja em cima do balcão e carne crua às moscas

C – Não te deixes levar pelo barulho F., a comida é muito boa
F – Não sei, isto está muito sujo. (Ao menos não me trouxe a um sítio maricas, safa!)
C – Vá lá, tem fé em mim, ‘mor.
F – (Fé? Fé? Fé em quê? Só se for na conta bancária do teu pai, porque tu nem uma porcaria de um trabalho normal arranjaste! És enfermeiro e trabalhas por turnos) Claro que tenho. Que vamos almoçar?
C – Para começar, um vinho do porto.
F – Sim, pode ser, mas não demores muito nas entradas, sim?, que eu estou a morrer de fome (carne, carne, carne!!)
C – Claro que sim. (pobrezinha, o passeio deve tê-la deixado faminta)
F – Obrigado, és um querido. (Fome que dói, oh anormal)
C – Amo-te.
F – Eu também (amo a tua herança e a carninha grelhada no prato)
C – Vou perguntar se demora muito, ok?
F – Claro.

            A fome de F mantém-se, assim como o entusiasmo de C. Do outro lado do telefone J espera por uma chamada. A tia de F. não sonha com casamento algum e o pai de C não quer entregar o dinheiro a uma rameira qualquer.

C – Ei-la, a garoupa gigante!
F – (NÃÃÃOOOO) Garoupa? Que bom! Pensava que ia ser um bife especial qualquer! (ou sem ser especial, génio)
C – Eu sabia que ias adorar. Tu adoras peixe, não é ‘mor?
F – Sim. (sorriso amarelo, amador!)
C – Já te disse que gosto muito de ti, hoje?
F – Já, mas é muito bom ouvir. (já estou a ficar farta)
C – A garoupa é boa?
F – É óptima. Mas como é que conseguiste que te fizessem peixe num sitio de carne grelhada?
C – Liguei e pedi. Disse que nos íamos casar e eles acederam no mesmo momento.
F – As pessoas são uns corações de manteiga. (eu só queria uma porcaria de carne! E hei-de a ter ainda hoje!)
C – Sim, mas a nossa história é fantástica. O sítio onde nos conhecemos (aquela praia quase deserta, só nós e os nossos cães que nos forçaram a conhecer), a garoupa que te paguei no restaurante da praia, e a tua camisola suja pelo azeite, que entornaste por estares a rir.
F – Como podia esquecer? (por acaso, tu até és giro, e tinhas um cão lindo. Mas eu entornei o azeite porque me engasguei na porcaria de uma espinha da garoupa! E que cena é tua com garoupas, ein? Eu queria um pernil pá!) Foi um dos dias mais inesquecíveis da minha vida!
C – Sou muito feliz a teu lado
F – E eu ao teu. (mas sem tantas mariquices e com carne)
C – E hoje, para lembrar esse dia, pedi o mesmo peixe de há … anos

            F. deixa cair o garfo. Apanha-o e …

C - AAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHH
F – Eu só queria uma boa dose de carne, burro!!!!!!!!!!!!!!!!!!

            O garfo estava espetado na perna de C.
            O telefone tocou…