A luz que me ilumina cega-me. É demasiado forte. Tento manter os olhos abertos por breves instantes mas nem isso consigo almejar. Estou cego. Uma cegueira de claridade, uma explosão luminosa que me tolda a visão.
Sempre imaginei que ser-se cego era viver na escuridão, ou, quanto muito, era viver acreditando em tudo e mais alguma, uma cegueira popular.
Agora, desnorteado e iluminado, percebo que a cegueira também é luz, como se uma lâmpada estivesse sempre dentro da minha órbita ocular.
Sempre me disseram que os cegos desenvolvem num grau superior os sentidos sobejante. No entanto, com o esforço que faço para tentar ver nem que seja uma madeixa do meu amarelo cabelo, calo os meus ouvidos e silencio a minha voz.
Agora, além de cego estou gago e semi-surdo. As mãos, tacteando o vazio (sinto-o), tremem (dá-me a sensação) ao não apanharem nada senão o vazio.
Ao menos resta-me não estar em pânico extremo e as pernas não me tremerem.
Não sinto as pernas a tremer.
Aliás, não sinto as pernas.
Sem ver, sem ouvir, sem falar e sem me mexer. Talvez seja altura de entrar em parafuso.
Não obstante estou calmo e seguro.
Estranho. E estranho Eu.
. . .
Espera! Lembro-me agora. Sou o Sol.
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