sábado, 7 de maio de 2011

hoje é o dia!

Hoje disseram-me "Levanta-te, acorda, limpa-me essas ramelas da cara e faz-te homem!"
Hoje fiz o que me mandaram, até certo ponto. Não me tornei homem, tornei-me antes quem sou. Se me fizesse homem seria mais um, seria igual a tantos outros que por aí andam, aos caídos, semelhante ao seu semelhante por assim o quererem ser.
Hoje levantei-me depois de me ter acordado, antes de a ordem me ter sido dada.
As ramelas limpei-as com Sol e tomei um banho canto de pássaros. Em vez de me fazer homem sorri infantilmente, ou pelo menos gosto de pensar que sim.
Hoje, depois de me ter levantado e ter limpo, sujei as mãos na lama e rasguei as calças no silvado.
Hoje, depois de me ter sujado e rasgado, fui quem sou.
Ao meu passo ululante os da minha geração censuravam-me com o olhar e com a mente toldada por rugas de homem crescido que lhe ordenaram um dia ser e eles anuiram ser.
Hoje, enquanto dava os meus pulinhos reparei numa saia aos folhos e nuns ténis de pano. Fiz-me parado ali. Alcovitei a saia e os ténis. Uma blusa azul, simples e uns óculos de massa apareciam por cima de uma pele morena e esfolada nos cotovelos. Nas mãos sujas um ramo de flores silvestres arrancadas por força à Terra Mãe.
As rugas em volta dos seus olhos denunciavam que nascera há já bastante luas. Provavelmente tantas como eu terei visto nascer.
Hoje ao ver os ténis de pano mudei o rumo dos pulos e comecei a dar passos seguros na sua direcção. Ela sentiu-me, virou-se e sorriu-me infantilmente, ou pelo menos eu assim o senti.
Hoje ao retribuir o sorriso recebi as flores silvestres e retribui com amoras pingando cor-de-sangue doce e fresco.
Hoje sou quem sou e gosto. Hoje é quem é e gosta. Hoje somos quem somos e gostamos.
Os outros? os outros são homens e mulheres iguais a tantos outros...

http://www.youtube.com/watch?v=xSd4evT8Nw8

"Sufoca-se o espírito da criança com conhecimentos inúteis." - Voltaire

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