Tu eras
daquelas gajas perfeitas. Cabelo louro, bem tratado. Lábios naturalmente
carnudos e uns olhos verdes esmeralda. Tinhas a pele levemente morena e um
pescoço esguio.
As tuas mamas,
ui, as tuas mamas. Grandes, mas não em demasia, debaixo dos tops e camisolas
decotadas e das camisas desabotoadas. Tinhas uma cintura fina e um rabo
perfeito. Alguns de nós ainda desconfiávamos que era das calças, da magia da
ganga, até te vermos na praia com os teus bikinis.
Tinhas as
pernas magras mas um pouco tonificadas.
Eras tudo
aquilo que qualquer gajo sonhava comer, mas que só alguns podiam.
Moravas num
bairro do subúrbio e trabalhavas como secretária num escritório de advogados. Mas
na verdade nenhum homem queria muito saber disso. Estávamos mais interessados
em pagar-te um jantar e levar-te para o quarto. O nosso ou o de um hotel mais
ou menos fino, para alimentarmos o nosso ego e te mostrarmos como troféu aos
outros. O destino era uma foda brutal. Ou a esperança disso.
Um dia, mais
tarde, os outros também te passaram a cobiçar. É que se antes eras mais que boa, com a
tua roupa de pouca qualidade e as calças compradas nos centro comerciais, agora,
com os vestidos e jóias falsas que os teus amantes te ofereciam, elevaste a
fasquia. Passaste de vaca de advogado, jornalista ou do engenheiro para passares a
ser cobiça de sócios de escritórios, directores de informação ou de um outro político promíscuo. E
pouco te faltava para seres a puta dos patrões.
Tu adoravas. Presentes
aqui a cair a jorro. Sentias-te importante, poderosa. Sabias que nas horas que
estes gajos estavam contigo, as mulheres estavam em casa acreditando em horas
extraordinárias e a ver novela.
Eras presença
nos jantares de gente importante, que comprava
roupa em Nova Iorque, e por medida. Ouvias pequenos
segredos de Estado que não compreendias, nem querias porque te faltava aquela
mala na toilette, e isso era o que mais te interessava.
Entediavaste quando
te levavam à ópera, porque tu querias era uma discoteca.
Tu até podias
ser daquelas gajas boas e invejosas, mas não eras. Tinhas o teu grupo de amigos,
que te tinham em boa conta, simpática, divertida. Alguns dos teus amigos
admiravam-se por tu não teres ainda namorado, ou namorada. E tu havias de
responder sempre que não tinhas tempo, que trabalhavas muito, e que gostavas
mais de compras e de sair do que de homens.
Eras assim,
levavas uma vida conto de fadas para adultos. Para um novo casaco, um novo
hotel, para uma prestação da casa, uma queca.
Ias indo
feliz, consumista, inserida na esfera da influência que não tinhas noção que
existia. Sentias-te importante mas não te gabavas. Sabias que o Dr S… decidia
sobre a taxa de juros, mas tu nem sabias o que era o juro. O Eng. D… queria a
estrada ali mas tu nem sabias onde o ali ficava.
Mas o teu
tempo passou. As veias das mãos começam a dar um ar da sua graça. A cara, que
foi outrora queimada pelo sol, começa a mostrar as suas manchas. Tens pequenos
papos debaixo dos olhos e rugas na testa. Começam-te a aparecer as primeiras
brancas.
Estás-te a
reduzir à meia idade, mas infeliz, porque até aqui não te deste conta que o
tempo passava.
Os gordos que te
alimentaram e te comeram agora cagam-se para ti.
Agora, à beirinha
dos 40 anos vês-te sem gajos que te paguem um copo ou as jóias. Os que contigo
se deitaram agora desprezam-te. Passam por ti nos novos carros. Alguns deles tu
ainda conheces os bancos sujos de orgasmos. E se algum deles te vir na rua, faz
que não te conhece.
E na realidade
já não te reconhece. As tuas nádegas firmes já não existem. As mamas falsas e tesas que te
deram estão deslocadas do teu corpo flácido e gasto.
Agora, que na raiz dos teu cabelos estão a aparecer brancas e que os teus amigos
não entendem a tua depressão, tu apercebeste-te de uma coisa:
O teu coração
está vazio.
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