Descreveu-me como se a alma se tivesse separado do corpo, e
por não ter peso, ou talvez por pesar apenas 21 gramas, esvoaçava livre 4
metros acima da realidade.
“Era uma sensação de liberdade mas de tristeza permanente”,
referiu.
E foi exactamente assim que me senti há pouco.
O corpo a tornar-se leve e a esvoaçar que nem as pétalas de um dente de
leão e ao mesmo tempo eu a ver o meu mesmo corpo. Havia uma qualquer ligação
ao corpo lá em baixo, inconsciente e disforme no sofá.
Vi a minha televisão. Passava MTV.
Vi a estante dos livros. Quase vazia.
Vi a porta da cozinha e o cortinado a esvoaçar como eu, mas
preso ao varão, como se não se conseguisse suicidar nunca.
Não me conseguia conduzir, apenas captava o que o acaso da
alma me mostrava.
Era tão bom estar ali em cima. Calmo. Sossegado. Esquecido.
Virtual.
Por outro lado era tão mau estar ali em baixo. Morto.
Sossegado. Esquecido. Real.
Vi a meu lado um saquinho com pedrinhas azuis e um tubo
esquisito de vidro.
“PORRA!”, disse em espírito.
Voltei a fumar meth!
Sem comentários:
Enviar um comentário