segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Morto no Sofá

Disse-me uma amiga que teve uma experiência de quase morte que viu o corpo estatelado na estrada, duas pessoas a saírem apressadamente do carro e transeuntes com as mãos na cabeça.

Descreveu-me como se a alma se tivesse separado do corpo, e por não ter peso, ou talvez por pesar apenas 21 gramas, esvoaçava livre 4 metros acima da realidade.

“Era uma sensação de liberdade mas de tristeza permanente”, referiu.

E foi exactamente assim que me senti há pouco.

O corpo a tornar-se leve e a esvoaçar que nem as pétalas de um dente de leão e ao mesmo tempo eu a ver o meu mesmo corpo. Havia uma qualquer ligação ao corpo lá em baixo, inconsciente e disforme no sofá.

Vi a minha televisão. Passava MTV.

Vi a estante dos livros. Quase vazia.

Vi a porta da cozinha e o cortinado a esvoaçar como eu, mas preso ao varão, como se não se conseguisse suicidar nunca.

Não me conseguia conduzir, apenas captava o que o acaso da alma me mostrava.

Era tão bom estar ali em cima. Calmo. Sossegado. Esquecido. Virtual.

Por outro lado era tão mau estar ali em baixo. Morto. Sossegado. Esquecido. Real.

Vi a meu lado um saquinho com pedrinhas azuis e um tubo esquisito de vidro.

“PORRA!”, disse em espírito.

Voltei a fumar meth!

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