Hoje, ao deitar, recordei-me dele.
Ainda que o tivesse visto apenas por alguns segundos retive
tanto dele!
Tinha rugas de velhice, nariz e orelhas de velho.
Os nós dos dedos eram grossos, como se o cálcio tivesse
encontrado ali um sítio para prosperar.
A sua voz rouca, calma, vivida, paternal. Era a voz segura
de quem já teve demasiadas certezas na vida para continuar certo acerta de
tudo.
Os seus passos eram fortes e incertos. Uma certa rigidez nos
joelhos.
Envergava uma roupa escura. Demasiado escura para a época.
Talvez estivesse de luto.
Calçava botas mexicanas, carregadas de lama. Hortelão presumi
eu.
Chegado ao pé de mim disse, muito clara e sincopadamente:
dá-me o telemóvel e a carteira seu badameco ou dou-te um tiro!
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