sexta-feira, 3 de março de 2017

Das Coisas Ocas


Tens o olhar vazio como se de uma gárgula enviesada te tratasses.

Enviesada porque és bela. Talvez a mulher mais bela que eu já conheci.

Porém toda a beleza do mundo não é para ti nada mais que uma manhã nublada.

A mais bela de mim não sabe do que fala a canção do Armstrong, nem sei se sentes.

Tens os olhos pintados de um verde baço, sem brilho algum, assim como não tem brilho a tua vida.

Desde que o chão da tua casa se abriu em dois e de lá esvoaçaram duas folhinhas de chorão e te tocaram uma na mão outra na face que o teu corpo adormeceu.

Hoje, nessa tua casa vazia és mais um móvel que range ao respirar e cujas gavetas perderam as chaves algures no fundo do tempo.

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