terça-feira, 27 de setembro de 2016

Carros de Pressa

Chove muito à hora da sesta.
Se fosse verão e se fosse fim de semana mesmo agora dormia um bocadinho, assim com as pingas d'água a baterem primeiro nas telhas e depois no chão.
Mas agora é Inverno e é quarta-feira, e no trabalho não posso dormir sesta. Quer dizer, não é que não possa, mas depois a minha patroa também me pode despedir, não é assim?
Trabalho na oficina geral de uma empresa de táxis, e trabalho não falta, mas faltam peças e a gente (eu, outro e um aprendiz) fazemos o que podemos com arames e restos dos carros velhos.
Os cabrões dos taxistas estão sempre a pressionar, e quanto mais chateiam, mais me atraso, que eu não volto a cara a nenhum despique. Depois arrependo-me.
Arrependo-me porque só tenho oito horas para trabalhar e uma vida para viver, e acabo a passar estas oitos horas a perder a vida e a discutir.
De resto, não me queixo de nada. O ordenado chega para comida e umas férias na terra da mulher e para gasolina. Ainda não tenho dores nas costas, mas a rótula que escavaquei a jogar à bola quando era novo já acusa a chuva.
Gostava era de ser mais instruído e perceber tudo o que dizem nas notícias. É que eu imagino que o Eng. Almeida, o deputado, fala muito bem, mas às vezes me engana. Mas é que o homem fala mesmo bem. Emprega palavras bonitas e estrangeiras. Gosto muito de o ouvir.
Parece assim um Júlio Isidro da política. Ainda deve chegar a Primeiro-Ministro. Eu cá hei-de votar nele.
Nessa altura já eu vou estar de reforma, se os que estão no poleiro agora ma derem, e vou ouvir a chuva a bater nas telhas e depois no chão, e a falar mal dos políticos e a chamar o carro de praça para me levarem ao hospital para me verem as pontadas nas costas.
Mas hoje não há sesta para ninguém!

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