quinta-feira, 17 de agosto de 2017

Chamava-se História, mas chama-se Inês

Todos os dias eu faço o mesmo percurso até à faculdade.
Saio do prédio, apanho o autocarro à minha hora, já que o autocarro está sempre atrasado.
Tenho os fones ligados ao iPod que está ligado à melhor playlist de sempre, a minha!
No entanto no último mês e pouco algo mudou, e eu sei que foi. Foi ela.
Ela é uma rapariga que deve ter a minha idade, ouve música por um iPod igual ao meu, mas cor de rosa. O meu é preto.
Já cruzamos olhares, sorrisos e eu já tentei descobrir o livro que ela lia.
Hoje tudo mudou. Quando eu entrei havia um lugar livre ao lado dela, que ocupei.
Tremia por todo o lado e olhava para o lado apenas pelo canto do olho. Conseguia ver o sol a iluminar-lhe a ponta do nariz e um bocadinho de cabelo. E acho que conseguia vê-la a mordiscar o lábio. Acho...
A determinada altura ela chateou-se com o iPod e resmungou "bela altura para acabar a bateria" e eu, que hoje não tinha a música ligada, perguntei "desculpe?"
- Foi o meu mp3, ficou sem bateria.
- Que estava a ouvir, posso perguntar?
- Que estava? Podes-me tratar por tu, a não ser que tenhas uma educação queque e sejas mega educado e tenhas desde já um lugar assegurado numa grande empresa que eu nunca ouvi falar.
E estava a ouvir Greatful Dead, conheces?
- Bem, ok, vou-te tratar por tu. Conheço mas não tenho. Tenho Led Zeppellin e Jimmy Hendrix. Se quiseres partilhamos fones.
- Pode ser, boa ideia. És um miúdo fixe, e eu muita parva por usar miúdo e fixe numa frase em 2017.
- Ahahahah. Tens algum álbum que gostes em particular?
- Sim, aquele que diz "shuffle".
- Não costuma ser o meu preferido, mas hoje pode ser.
- Boa. Estudas?
- Ya, na Nova. E tu?
- Ya, também, na velha. Nop, chumbei nos exames e este ano estou a trabalhar para ter dinheiro para viajar ou pagar propinas ou comprar droga. Uma das três.
- Droga é um investimento bom. Olha a Aspirina!
- Tu percebes-me.
- Achas?
- Não sei, mas és um miúdo fixe e tens sentido de humor. E uma boa playlist.´
- Obrigado, diz o miúdo fixe, que se chama Alfredo.
- Boa Alfredo, que tem cocó no dedo. Prazer.
- Prazer por parte da?
- Da história. É esse o meu nome.
- História?
- Sim história.
- Que raio de nome.
- Chamo-me assim porque de hoje em diante faço parte da tua história. Vou ser a miúda que conheceste no autocarro a caminho da faculdade e que te deu o número de telefone antes de sair, exactamente aqui.
- Espera, espera.
- Não preciso. Liga-me se quiseres continuar esta história.

Liguei.

4 comentários:

  1. Chamava-se Nini
    Vestia de organdi
    E dançava, dançavaaaa
    Dançava só para mim
    Uma dança sem fim
    E eu olhava, olhavaaaa

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  2. Não há bonequinhos aqui, mas eu faço <3 (com esta letra não fica grande coisa, mas é um coração). É tão engraçado que estas coisas estejam na tua cabeça. :)

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    1. Percebeu-se! :)
      Obrigadinho. Vou ver se arranjo mais. Mas tenho de voltar a matar gente!

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