quarta-feira, 23 de agosto de 2017

A Rapariga do Kimono

Não, hoje não vos falo de uma Inês perdida num autocarro de uma qualquer cidade, nem vos falo de uma sede imensa e inexplicável por sangue e pathos.
Hoje falo-vos apenas da rapariga do kimono, sem nome mais próprio que este.
Ela é alguém que se pavoneia (mas não arrogantemente) em qualquer sítio sem que tu notes sempre, em qualquer rua de qualquer cidade.
Vê coisas onde eu vejo outras, mas provavelmente mais belas.
Sorri, dança mas ainda não sei se chora em qualquer lado.
A rapariga do kimono é assim, como tantas outras raparigas que por ti passam, mas a cabeça dela está cheia de magia, de piadas, de dúvidas e de saber.
Saber geral, saber particular, saber de não saber ou saber de imaginar.
Passa por ti outra vez e se a fisgares a sorrir e a saltitar consegues imaginá-la a ouvir música sentimentalona, como Sinnerman da Nina, mas provavelmente estará a ouvir metal, descrições de pesadelos mas com o cabelo a bambolear feliz.
Acho que ela tem esta ideia de si, mas não tenho a certeza.
Acho que ela vive bem, vive de bem com a vida, mesmo com as unhas pintadas de azul bebé a acompanhar casacos de cabedal.
Só ainda não sabe confiar no meu braço para se apoiar caso o chão molhado a teime em derrubar.

Sem comentários:

Enviar um comentário