segunda-feira, 21 de março de 2011

brisa

Alentejo. Alto Alentejo. O céu está mais azul que nunca, nem uma nuvem a perturbar a calma alentejana. Uma ligeira brisa vinda do Sul aquecia ainda mais a seara dourada pelo sol e pelo perdurar dos tempos. Um pardal encalmado procura abrigar-se do calor por entre o trigo, enquanto que um trigueirão molha o bico num charco quase seco.
Uma criança aflita corre ao sol abrasador, esbaforida por entre o restolho onde tudo, aparentemente está calmo, corre como se estivesse à beira do fim, sem ligar ao ambiente em seu redor. O velho “Joquim” que se levantou agora da sesta está cheio de sede assim como as suas rugas estão cheias de trabalho, de trabalho de sol-a-sol, sem sequer ter um simples dia de descanso, mesmo nos dias santos.
O Tó do “Joquim da Uva” lá continua a sua tarefa cansativa de ir procurar água para o cansado avô. Corre como se tivesse asas nos pés. Ficam felizes aqueles que o vêm na tasca da pobre e velha aldeia de brandos costumes a ajudar o seu velho e pobre avô. Consideram-no “um rapaz daqueles que já não há”.
Finalmente chega. Põe em cima do balcão, ao qual mal chega, um cobrezito que mal chega para uma garrafa de água das pequenas, mas que amável senhor Isidoro troca por uma garrafa de litro e meio e um punhado de guloseimas.
Então os habituais clientes da tasca do “Cantinho” sorriem ao ver o Tó agradecer e desaparecer num ápice, esforçando-se para agradar a quem lhe é agradável
A criança toma o mesmo caminho mas em sentido contrário, passando por searas, charcos, trigueirões e pardais, por pedras perenes e por pequenos répteis que se arrastam.
Chega ao pequeno monte. O avô espera-o sentado numa cadeira de pau, encostado a uma mesa velha de madeira escura, com uma telefonia a passar no negro da casa um cante alentejano. O “Joquim da Uva” está feliz por o rever, aquele petiz esforçado por ser trabalhador, louvado por ser agradável.
O velho mata a sede, o jovem cumpre o dever e os pássaros espreitam a leve brisa fresca de uma triste nortada.

"Antes ser um homem da sociedade, sou-o da natureza." Marquês de Sade

http://www.youtube.com/watch?v=5SWIPlgciSs

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