segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Livre à Condição

A avaliar pelas estrelas devem ser umas três da manhã.
Acordei com os rins a chicotear-me as costas.
Passo pela casa de banho, abro a porta da rua e mijo 30 metros à frente, ao relento e para o tronco de um pinheiro vagabundo.
Imagino a imagem desta cena: um gajo que tinha tanto de careca como de grisalho, levemente anafado, de pijama, de madrugada, a mijar no meio do pinhal, mas em frente a uma moradia.
Certamente iria passar umas horinhas ao posto da GNR lá da vila, e teria de explicar porque é que não usei a minha sanita, não tendo sequer ingerido qualquer tipo de álcool naquela noite.
Eu responderia que mijei na rua porque me apeteceu, porque poupava uma descarga de água, porque aquela urina não ia matar a árvore, porque o relento é saudável, porque gosto da noite, sei lá mais o quê. Diria que sou livre, num país livre e democrático, ARRE!
E iam-me responder: pois é, é livre, mas só mais ou menos. Urinar na via pública é um atentado ou pudor, punido por lei, Sr B.
Saio da imaginação, dou três sacudidelas e vagarosos passos até ao portão.
Já fiz este percurso umas boas milenas de vezes, mas desta vez sinto-me oprimido.
Se há 5 minutos me senti livre de ir de pijama à rua, no meio de uma noite amena de primavera, agora regresso a pensar que sou como uma garrafa vazia ao largo no mar: posso apanhar as vagas que quiser para onde quiser, mas haverá sempre um dia em que serei lixo.

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